Predador: Terras Selvagens é o melhor da série desde o original

A franquia Predador volta aos cinemas com “Predador: Terras Selvagens”, novo longa dirigido por Dan Trachtenberg, o mesmo nome por trás de O Grande Assassino de Assassinos, antologia animada que chamou atenção pela qualidade visual e narrativa. O filme marca o sétimo capítulo da série iniciada em 1987, e chega com uma proposta ousada: revitalizar a marca sob o selo da Disney, que hoje detém os direitos da antiga Fox.
Desde O Predador: A Caçada (2021), Dan Trachtenberg se tornou uma figura central na tentativa de resgatar o prestígio da franquia.
Aquela produção, lançada durante a pandemia, já mostrava o interesse do diretor em explorar o universo do caçador alienígena sob uma ótica mais simbólica e mitológica.
Com Terras Selvagens, ele expande essa abordagem, agora dentro do ecossistema da Disney, tentando criar uma base emocional sólida e um novo ponto de partida para futuras produções, sejam elas filmes, séries ou jogos.
A lógica é clara: não se trata mais de falar apenas com os fãs veteranos. A Disney enxerga Predador como uma marca com potencial de expansão, que pode alcançar um público mais amplo e diversificado. Isso explica o tom mais leve e a mudança de classificação indicativa, nos Estados Unidos, o filme recebeu um PG-13, o que seria impensável em produções clássicas da franquia, marcadas pela violência explícita e o suspense visceral.

Predador: Terras Selvagens – Uma caçada iniciática em um planeta selvagem
A trama se passa no planeta Genna, um mundo hostil e mortal. O protagonista, um jovem considerado fraco demais para seu clã, decidiu ir ao planeta para provar seu valor caçando a criatura lendária conhecida como Kalisk, descrita como indestrutível e quase mítica.
Durante sua jornada, ele forma uma improvável aliança com a androide Thia, interpretada por Elle Fanning, que adiciona à narrativa uma camada de leveza e humor.
A parceria entre os dois evolui de uma relação de conveniência para uma amizade genuína, refletindo o tom emocional que Trachtenberg quis imprimir à obra.
Além disso, o roteiro introduz a presença da Weyland-Yutani, corporação icônica do universo Alien, fortalecendo a ponte entre as duas franquias e reacendendo as especulações sobre um universo compartilhado Alien vs. Predador, mas, desta vez, sob uma estrutura narrativa planejada e mais controlada.

Do terror à emoção: a transformação do Predador
Nos filmes originais, o Predador era uma força da natureza: enigmático, sem motivação aparente, quase sem cultura visível.
Como criaram Jim e John Thomas em 1987, a genialidade do conceito estava justamente na ausência de respostas.
O terror vinha do que não se via, daquilo que permanecia inexplicável.
Em Terras Selvagens, no entanto, esse mistério dá lugar ao sentimentalismo. Mas calma, não é como você está pensando.
A violência, antes gráfica e perturbadora, agora é suavizada, porém o filme não abriu mão de ótimas cenas de ação.
O mascote Bud, um pequeno ser de olhos grandes e comportamento adorável, funciona como delicioso alívio cômico.
É uma mudança drástica de tom. O que antes era uma franquia de horror e ficção científica, marcada pelo medo e pela tensão, agora assume a forma de uma aventura de amadurecimento emocional, quase uma fábula sobre autodescoberta, culpa e perdão.
Mitologia, trauma e conexões corporativas

Um dos pontos centrais do roteiro é a relação do protagonista com o passado.
Ele carrega traumas de um pai abusivo e outros problemas familiares, o que o empurra para uma jornada de crescimento e reconciliação com a própria identidade.
Essa estrutura emocional dá espaço para que Trachtenberg explore novas camadas mitológicas sobre a cultura dos Predadores, apresentando conceitos inéditos, como rituais de passagem e o legado guerreiro de cada geração.
Ainda assim, o filme opta por não aprofundar essas ideias.
Em vez de explorar a filosofia ou os códigos de honra dos Predadores, ele prefere manter a narrativa dentro de uma fórmula segura, alternando ação com humor e momentos de empatia.
Por outro lado, a presença da Weyland-Yutani cumpre um papel importante.
A corporação aparece não apenas como antagonista, mas como um elo narrativo com o universo Alien.
Essa integração simbólica sugere que a Disney pretende canonizar oficialmente o crossover das duas franquias, algo que os filmes dos anos 2000 tentaram fazer de maneira mais desorganizada.
Visual de tirar o fôlego
Se há um aspecto em que Terras Selvagens realmente brilha, é no visual.
O planeta Genna é um espetáculo de design e direção de arte: cada planta, inseto e criatura parece esconder uma ameaça.
Trachtenberg e sua equipe criam um ecossistema que mistura perigo e beleza, com uma paleta de cores que foge do realismo e abraça o estilizado.
Como o filme não pode exibir sangue em excesso, a solução foi substituir a brutalidade tradicional por fluídos neon, em tons de verde, roxo e laranja.
O resultado é uma estética quase psicodélica, que transforma as batalhas em pinturas em movimento.
Entretanto, a tentativa de tornar a violência “bonita” acaba tirando parte do impacto.
A brutalidade, marca registrada da franquia, é substituída por espetáculo visual.
O horror dá lugar ao deslumbre, e isso muda completamente o significado do que é enfrentar um Predador.

Do ponto de vista técnico, Terras Selvagens é competente.
Os efeitos visuais são bem executados e o terceiro ato entrega uma batalha grandiosa, embora lembrando mais um chefão de videogame do que um clímax cinematográfico.
Há uso excessivo de slow motion, o que reforça essa sensação de “cutscene”, cenas que parecem ter sido projetadas mais para o trailer do que para o impacto narrativo.
Predador: Terras Selvagens é ambicioso.
A ideia é expandir a franquia, criar emoção, ser algo novo, e ele consegue.
O resultado é uma produção com excelente direção de arte, boas atuações e uma mitologia interessante.
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