Poucos recursos narrativos são tão instantâneos e eficazes quanto o jump scare
Aquela explosão repentina de som e imagem que faz o espectador literalmente pular da cadeira já virou sinônimo de filmes e jogos de terror. Mas afinal, de onde surgiu essa técnica? Como ela evoluiu? E por que continua sendo tão utilizada até hoje?
O que é um jump scare?
O termo jump scare significa, literalmente, “susto que faz pular”. É uma técnica de narrativa audiovisual em que a tensão é construída lentamente, para então ser quebrada com um estímulo súbito, geralmente uma imagem chocante acompanhada de um som estrondoso.
O recurso explora diretamente o reflexo de sobressalto do ser humano, uma resposta instintiva do corpo a estímulos inesperados. Por isso, mesmo que a cena em si não seja assustadora, o jump scare costuma causar impacto imediato.
A origem nos primórdios do cinema
Embora seja fortemente associado ao terror moderno, o jump scare tem raízes antigas. Um dos primeiros registros do recurso está no clássico “Cat People” (1942), dirigido por Jacques Tourneur. No famoso Lewton Bus Scene, a protagonista caminha sozinha à noite, enquanto sons tensos aumentam a expectativa de um ataque. De repente, o barulho de um ônibus chegando quebra o silêncio, um susto inesperado, mas sem nenhuma ameaça real.
Essa cena ficou tão marcada que originou o termo “Lewton Bus”, usado por décadas como referência a esse tipo de artifício. A partir daí, o jump scare começou a se espalhar pelo cinema de terror, sendo refinado em obras como Psicose (1960), Halloween (1978) e Sexta-Feira 13 (1980).
A evolução no cinema de terror
Nos anos 70 e 80, o jump scare se consolidou como um dos recursos favoritos dos diretores de terror. Filmes de monstros e slashers exploravam a tensão crescente, quase sempre finalizada por uma cena impactante: a máscara de Michael Myers surgindo do nada, Jason levantando do lago, ou Freddy Krueger invadindo os sonhos das vítimas.
Com o tempo, essa técnica passou a ser criticada por alguns, que a consideram uma forma “barata” de assustar. No entanto, diretores talentosos a utilizam de maneira estratégica, combinando-a com atmosfera, suspense e narrativa. Um exemplo moderno é James Wan, em Invocação do Mal (2013), que equilibra tensão psicológica e sustos repentinos de forma eficaz.
A chegada aos videogames
Se no cinema o jump scare já era eficiente, nos games ele encontrou um novo território fértil. A interatividade do jogador aumenta a imersão, tornando o susto ainda mais intenso.
Nos anos 90, franquias como Resident Evil popularizaram a técnica — quem não lembra do clássico momento em que os cachorros atravessam as janelas da mansão? Já em 2014, o indie Five Nights at Freddy’s revolucionou o gênero ao basear sua mecânica quase inteiramente em jump scares, usando a expectativa constante do susto como motor do medo.
Hoje, títulos como Outlast, Amnesia e P.T. continuam explorando o recurso, mostrando que, quando bem aplicado, ele pode ser devastador para os nervos do jogador.
Além do terror: outras aplicações
Embora seja mais comum em filmes e jogos de terror, o jump scare também aparece em outros contextos.
• Comédias: alguns filmes usam o recurso de forma paródica, transformando o susto em riso.
• Campanhas publicitárias: especialmente nos anos 2000, vídeos virais na internet usavam jump scares para chocar e atrair atenção.
• Memes e vídeos online: os famosos “sustos de pegadinha” se tornaram parte da cultura da internet, aproveitando o mesmo princípio.
Por que ainda funciona?
O sucesso do jump scare está ligado ao funcionamento do nosso cérebro. Ele ativa o sistema de alerta, liberando adrenalina e acelerando os batimentos cardíacos. Mesmo quando sabemos que pode acontecer, o impacto ainda é sentido.
No entanto, especialistas apontam que o excesso de jump scares pode banalizar o terror, transformando a experiência em uma sucessão de choques previsíveis. Por isso, os filmes mais elogiados do gênero usam a técnica com parcimônia, em conjunto com a construção de atmosfera e tensão psicológica.
Conclusão
Do Cat People dos anos 40 até os jogos de terror modernos, o jump scare atravessou décadas como um dos recursos mais reconhecíveis do horror. Ele pode dividir opiniões — para alguns é um truque barato, para outros uma ferramenta poderosa — mas é inegável que continua cumprindo sua função: provocar reações intensas e imediatas no público.
O segredo, como sempre, está no equilíbrio. Quando aliado a uma boa narrativa e atmosfera envolvente, o jump scare deixa de ser apenas um susto e se torna um momento memorável na história do terror.
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