Um dos melhores animes já feitos. Sombrio, utópico e radicalmente filosófico.
Lançado em 2006 pelo estúdio Manglobe, o mesmo responsável por Samurai Champloo, o anime Ergo Proxy é uma obra que conquistou um espaço especial entre as produções de ficção científica. Diferente de títulos mais populares e acessíveis, como Death Note ou Fullmetal Alchemist, essa série mergulha fundo em questões filosóficas, existenciais e sociais, construindo um universo sombrio e enigmático que desafia o espectador a refletir.
Com direção de Shukou Murase e roteiro de Dai Satō, Ergo Proxy combina elementos de cyberpunk, distopia e psicologia, criando uma narrativa complexa que exige atenção e paciência. Para muitos, é um anime “difícil”, mas justamente esse peso intelectual é o que o torna tão marcante.
Sinopse e ambientação
A história se passa em um futuro pós-apocalíptico, onde a Terra foi devastada por catástrofes ambientais, tornando a superfície quase inabitável. A humanidade, reduzida e isolada, vive em cidades-domo protegidas, sendo Romdo a mais proeminente delas.
Nessa sociedade controlada, os seres humanos convivem com androides chamados Autorêivs, criados para auxiliar nas tarefas do dia a dia. Porém, uma anomalia começa a surgir: o chamado vírus Cogito, que dá consciência a esses androides, transformando-os em seres capazes de pensar e sentir por conta própria. Essa ruptura ameaça a ordem estabelecida pela tecnocracia de Romdo.
A protagonista é Re-l Mayer, uma inspetora da Inteligência de Romdo, neta do regente da cidade. Ela é fria, calculista e cética, mas acaba envolvida em uma trama muito maior quando cruza o caminho de Vincent Law, um imigrante aparentemente comum que esconde segredos ligados aos misteriosos Proxies — criaturas quase divinas, dotadas de poderes imensuráveis e fundamentais para o destino da humanidade.
Temas centrais
Ergo Proxy não se limita a contar uma história de perseguição e mistério. Sua essência está nos questionamentos filosóficos que levanta:
1. Identidade e autodescoberta – Vincent Law é um protagonista em busca de quem realmente é. Sua jornada ecoa a pergunta fundamental: “O que nos torna humanos?”
2. Livre-arbítrio vs. Determinismo – O vírus Cogito e o despertar dos Autorêivs simbolizam a tensão entre a liberdade de escolher e o peso das programações sociais ou biológicas.
3. O vazio existencial – A estética sombria do anime reflete uma sociedade que perdeu propósito. O ritmo lento e os diálogos densos são instrumentos narrativos para transmitir essa sensação de niilismo.
4. Deus e a criação – Os Proxies funcionam como metáforas de divindades, levantando debates sobre criadores e criaturas, poder e responsabilidade.
Esses elementos fazem com que Ergo Proxy seja comparado a obras como Blade Runner (pela crítica à relação homem-máquina) e até a textos filosóficos de Descartes, Nietzsche e Lacan.
Estilo e estética
Visualmente, o anime impressiona. O design dos personagens, com olhos marcantes e traços realistas, foge do padrão mais “caricato” de muitos animes. A paleta de cores é escura, repleta de cinzas, azuis e pretos, refletindo o clima opressivo do enredo.
A trilha sonora também é um destaque. A música de abertura, Kiri da banda Monoral, mistura rock alternativo com atmosfera melancólica, enquanto a ending, Paranoid Android do Radiohead, reforça o caráter existencial e perturbador da obra.
Recepção e legado
Quando lançado, Ergo Proxy não teve um sucesso comercial tão expressivo quanto outros animes da época, mas rapidamente conquistou status de cult. Entre fãs de ficção científica, é lembrado como uma das produções mais ousadas dos anos 2000.
Muitos espectadores consideram a narrativa confusa ou arrastada, mas justamente essa complexidade é o que permite debates intensos até hoje. Quem mergulha de verdade em sua trama encontra referências literárias, psicanalíticas e políticas que enriquecem cada episódio.
Além disso, Ergo Proxy abriu espaço para que outros animes com propostas mais adultas e densas ganhassem atenção, ajudando a consolidar a ideia de que o anime pode ser um veículo legítimo para discussões filosóficas profundas.
Por que assistir hoje?
Em tempos de discussões sobre inteligência artificial, direitos das máquinas e futuro da humanidade, Ergo Proxy se mostra ainda mais relevante. Questões que eram vistas como pura ficção em 2006 hoje parecem assustadoramente próximas da realidade.
Assistir ao anime é uma experiência que vai além do entretenimento. É um convite para refletir sobre identidade, liberdade, tecnologia e humanidade. Não é uma obra para quem busca apenas ação desenfreada, mas para quem aprecia uma narrativa lenta, poética e inquietante.
Conclusão
Ergo Proxy é um anime que desafia, provoca e emociona. Sua força não está em respostas fáceis, mas na coragem de fazer perguntas que incomodam. É uma obra para ser revisitada, discutida e sentida, uma verdadeira joia da ficção científica que prova como a animação pode ser, sim, uma arte profunda e transformadora.
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